Kits temáticos colaboram com a popularização da Ciência nas escolas brasileiras

(com Revista FAPESP)

Uma parceria entre USP, Unicamp, UFRJ, FAPESP e MEC, através do Capes, busca, desde 2013, popularizar a prática científica no Brasil, através de kits temáticos de matemática, física, química, biologia e astronomia. É a ideia do projeto Aventuras na Ciência, que espera distribuir um milhão desses kits para alunos em idade escolar, em 22 mil escolas do país. No entanto, o prosseguimento do programa depende da renovação da parceria com o MEC, interrompida por ocasião das eleições presidenciais.

Os kits não são nenhuma novidade. A inspiração está na série Os Cientistas, lançada em fascículos pela Editora Abril em 1972, após idealização por parte do professor Isaías Raw e pela já extinta Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências. Na época, os kits vinham em caixas de isopor que reproduziam, de formas simples, experiências científicas importantes, como a da lei da Indução de Faraday.

Funcionárias da Editora Abril embalando fascículos da série "Os Cientistas", de 1972 (Fonte: Editora Abril)

Funcionárias da Editora Abril embalando fascículos da série “Os Cientistas”, de 1972 (Fonte: Editora Abril)

A intenção do projeto é a de popularizar kits que se tornem “laboratórios móveis” dentro das escolas, aprimorando o trabalho dos professores na transmissão dos conhecimentos científicos de diversas áreas. De acordo com com um dos coordenadores do projeto, Vanderlei Bagnato, professor do IFSC (Instituto de Física de São Carlos) da USP, a intenção do projeto é a educação pela via da ciência. “Com esse kit queremos que as crianças pratiquem ciência como elemento educativo”, diz o professor.

Além de Vanderlei Bagnato, fazem parte da coordenação do projeto o químico Henrique Eisi Toma, a astrônoma Beatriz Barbuy, o matemático Eduardo Colli, as biólogas Mayana Zatz e Eliana Dessen, da USP; o físico Herch Moysés Nussenzveig, da UFRJ; e o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, oriundo da Unicamp.

Os manuais  de uso dos kits precisaram ser reformulados após reclamações dos alunos, que consideraram a primeira versão “pouco concisa”. Esse feedback ajudou a melhorar o material original: “Com base nisso, refizemos os manuais com uma linguagem mais adequada ao público jovem”, diz Eliana Dessen, bióloga da USP.

O kit tem um efeito introdutório, o de despertar o interesse dos alunos na prática de ciências. 67% dos estudantes disseram que só conseguiram compreender um conceito científico depois de entrarem em contato com os kits, de acordo com o MEC. Mas os coordenadores enfatizam que os kits não substituem os laboratórios de ciências das escolas:  “O laboratório tem estrutura para a realização de experimentos mais complexos. Já os kits são recursos individuais para experimentação, como pequenos laboratórios caseiros”, explica a geneticista Mayana Zatz, da USP.

Para quem vivencia o uso dos kits nas escolas, o resultado é extraordinário: “Tenho vivenciado muitas experiências em ensino e aprendizagem, e uma das que mais trouxeram resultados satisfatórios foram os kits de ciência”, diz Alecxandro Alves Vieira, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).  A facilidade de uso e a abordagem amigável e intuitiva também são elogiadas pelos professores. A versão atual dos kits científicos também contém aulas e explicações audiovisuais.

Dos kits, o único que não pode ser utilizado em sala de aula é o de Astronomia. Dentre os ítens do kit, estão um telescópio galileano, que permite, em condições atmosféricas favoráveis, a visão das quatro principais luas de Júpiter, por exemplo. “Redescobrir a ciência feita à mão, sem muitos recursos digitais, é uma experiência libertadora”, diz Beatriz Barbuy, professora da USP. Uma experiência que cada vez mais alunos da rede pública passaram a vivenciar.

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