Por Victor Caparica
Hoje vamos conhecer a história de uma cientista cujo trabalho me beneficiou diretamente, portanto alguém a quem sou particularmente grato.
Patricia Bath nasceu no Harlem, em Nova York, em 4 de Novembro de 1942, e não teve irmãos. Seu pai, Rupert, foi o primeiro operador de trens negro em Nova York e, segundo ela própria, a incentivou muito nos estudos.
Na adolescência ela se candidatou a uma bolsa de estudos que a colocou em contato com pesquisa médica sobre câncer. Ainda adolescente ela recebeu um prêmio e reconhecimento na mídia por sua contribuição nessa pesquisa, e decidiu que se tornaria médica.
Ela se mudou pra capital Washington, e começou a estudar medicina no Howard College, se envolvendo com a oftalmologia. E foi então, trabalhando no Centro Hospitalar do Harlem, que ela notou algo bastante peculiar entre seus pacientes: ela percebeu que a taxa de problemas visuais e cegueira era maior entre seus pacientes negros e pobres. Muito maior. E percebendo o descaso das políticas públicas com a saúde dos olhos dessas pessoas, ela resolveu fazer algo a respeito.
Primeiro, ela convenceu seus professores do Howard College a semanalmente operarem pacientes pobres gratuitamente no Harlem Hospital. Em seguida, ela iniciou um dos trabalhos pioneiros no mundo em oftalmologia comunitária, hoje uma extensão comum nas faculdades de medicina.
A essa altura, Patricia já tinha se decidido pela oftalmologia, e foi fazer residência na New York University. E foi a primeira mulher negra a fazê-lo. Mas isso francamente não foi nada dentro da lista de pioneirismos dessa pessoa.
Ela se formou e foi ser assistente no Jules Stein Eye Institute, onde pouco depois seria a primeira mulher a se tornar professora titular. Em seguida, e por que não, ela também se tornou a primeira mulher negra cirurgiã na Universidade da Califórnia.
Em 1978 ela fundou o Instituto Americano para a Prevenção da Cegueira, sendo sua primeira Presidente. Em 1983 ela se torna a primeira mulher norte-americana nomeada Chefe de Residência, na Oftalmologia do Charles R. Drew Hospital.
Mas foi entre 1981 e 1988 que ela desenvolveu sua pesquisa mais relevante para a medicina, o LaserPhaco Probe.
Ocorre que até então se tratava catarata da seguinte maneira: o cristalino, a lente que foca a luz nos olhos, fica opaco por conta da catarata,e precisa ser removido. Era feito então um corte ENORME na lateral da pupila, digamos 1/3 da circunferência, pra remover o cristalino, daí costurava.
A Patricia teve uma idéia, que desenvolveu na forma do LaserPhaco após estudar lasers na medicina por um ano em Berlim. Resumindo é assim: Um emissor de ultra-som associado a um laser vai lá e fragmenta o cristalino opaco em dúzias de pedaços pequenos. Daí com o laser ela fazia um cortinho, pequenininho mesmo, só pra caber um canudinho bem fininho. E com o canudinho ela suga pra fora os pedaços do cristalino, por um buraco tão pequeno que mal carece de pontos. Reduz gritantemente as complicações pós-cirúrgicas, melhora gritantemente a taxa de sucesso, torna a cirurgia muito mais rápida.
Em 1988 ela conclui o LaserPhaco, fechando seu pioneirismo como a primeira mulher negra a registrar uma patente médica. O LaserPhaco é usado até hoje em cirurgias de catarata para devolver a visão a pessoas no mundo todo.
Em 2001, durante o processo de lutar contra a cegueira, eu tive catarata nos olhos como conseqüência de um tratamento. E fui operado usando um LaserPhaco. E isso me concedeu 3 anos adicionais de visão.
Em 1988 ela entrou para o Hall da Fama do Hunter College, e em 1996 foi nomeada Pioneira em Medicina Acadêmica pelo Howard College.
Hoje a Doutora Bath dedica seu tempo e dinheiro a projetos de pesquisa em telemedicina para comunidades pobres isoladas. Seu trabalho busca criar meios para que essas pessoas tenham acesso a consultas médicas mesmo morando longe dos centros urbanos.
E essa, pessoas, é Patricia Bath, #cientwista que afetou diretamente minha vidinha. Semana que vem tem mais.
Para acessar outros textos da série #Cientwistas, clique aqui.